sábado, 23 de abril de 2011

Soneto de Partilha

(Lailton Albuquerque de Farias, in Vinte e Cinto Sonetos de Amor e Uma Balada)

A casa que era minha agora é nossa
Porque divido a dois a minha vida
Tudo o que eu tenho é teu também, querida
Como também a minha vida é vossa.

Contigo eu compartilho o meu sorriso
O dia, a tarde, a noite, a madrugada
Contigo eu compartilho a caminhada
E todo o horizonte que diviso.

Contigo eu compartilho um sobrenome
O amor, a casa, o corpo, a alma, um filho
Meus anos ao teu lado eu compartilho.

Mas que o tempo — que a vida nos consome,
Não me tome de mim meu caro brilho
Do amor que em juventude, então, partilho.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A Ordem e o Caos

A uma bagunceira

Lailton Albuquerque de Farias, in Vinte e Cinco Sonetos de Amor e Uma Balada

Você deixou vários vestígios pela casa
Deixou mil fios dos seus cabelos espalhados
Por toda a sala e no meu quarto e no banheiro
E na cozinha mesmo há fios dos seus cabelos

Há roupas suas no meu quarto junto as minhas
Que contrariam minha organização
E já namoram até nossas peças íntimas
Que abandonamos espalhadas pelo chão

Lembro-lhe aqui a bagunçar o quarto inteiro
Lembro o perfume e o seu reflexo no espelho
Quando você se arruma e vem me seduzir

Mas eu te aceito mesmo assim desordenada
Mesmo que possa parecer um paradoxo
Sei que no caos do nosso amor existe ordem

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Soneto que nada diz

Yvanna Oliviera


Eu busco, amor, no meu íntimo o que te expresse

O sentimento veemente que me despertas

Mas é em vão, não há versos ou rimas certas

Toda poesia é pequena ao que me parece.


Toda palavra é confusa, logo emudece

Assim que vê o que deve ser traduzido

Então eu calo e te faço só um pedido

Aceite os versos, simplórios. Já anoitece.


E o verso puro que eu quis a mim recusou

Minha agonia já mostra meu insucesso

Eu sinto tanto e não digo. Está bem, confesso:


Sinto-me fraca, pseudopoeta sou

Peço-te entenda a coragem desta aprendiz

Que te oferece um soneto que nada diz.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Soneto ao Silêncio

Yvanna Oliveira

O meu silêncio tem um quê de sagrado

Fica guardado em teu olhar se desprende

tanto diz quanto te quero ao lado

Fala tão alto que teus olhas entendem


Deixo-o guardado; meu silêncio só teu

Pois sei que quando nossos olhos se amparam

Culto sagrado: teu silêncio no meu

Eles se guardam, nos protegem, se encaram


Nosso silêncio, sentimento, tem tom

Pura harmonia. Nosso amor faz-nos ver

Luz por saber que ouvir silêncio é um dom.


Faz-nos ouvir só o que carece de o ser

É melodia quando há ausência de som

É voz, sussurro, faz sorrir, dá prazer.

Monólogo Sobre a Solidão

Lailton Albuquerque de Farias, in O Livro dos Monólogos Mal Ditos

I

Há um certo charme em ser um solitário

Adoro a solidão

Não pela liberdade que ela aparenta dar
Não penso que sou livre sendo só

Não

Não falo de liberdade
Falo de solidão
Solidão é algo diferente
A solidão é como o pensamento
E o pensamento é a liberdade total
Na mais completa solidão

Mas eu não sei se sou livre quando penso
Apesar de ser livre pra pensar no que quiser

Essa é uma questão difícil

Porque deve ser impossível não pensar
Logo o pensamento é uma prisão
E não se pode ser livre quando se é prisioneiro

Mas essa é uma questão difícil

Eu aprendi a gostar da solidão
Quando tive que ficar só
E de tanto estar só
Aprendi a ser só

A solidão é uma opção
Eu não sei se sou livre
Não escolhi ser livre
Escolhi ser só


II

No mundo deve haver outros solitários
Desses que cultivam a solidão
Que desprezam o convívio
Que foram morar nas florestas
Que preferem as montanhas
Ou as cavernas
Ou o mar

Eu já pensei em me mudar para o mar
Comprar um velho veleiro
Navegar
Ter a companhia dos peixes
Das andorinhas
Das baleias
Dos golfinhos

Dos tubarões não
Deles eu tenho medo

O mar

O mar guarda muitos mistérios
De tesouros perdidos em naufrágios
De heróis que por anos vagaram
A deriva sem norte e sem sorte
Pela vontade dos deuses irados

No mar a solidão deve ser completa
E a noite deve ser linda
Toda cheia de estrelas no céu
Que nem o céu da minha namorada

É uma pena eu não saber navegar
E muito triste eu não ter o dinheiro
Para comprar um velho veleiro


III

O bom de ser só é que se pode namorar muito
Eu prefiro ser só e ter apenas uma namorada

As namoradas são estranhas
As namoradas dão muito trabalho
Elas são todas doidas
Querem muita atenção

Não sei se já falei de minha namorada
Sim
Eu tenho uma namorada
Como eu disse que prefiro apenas uma

A minha namorada é linda
Sorriso delicado
Pouco mais de um metro e meio
Longos cabelos negros
E olhos apaixonados que sorriem ao me ver

Meus olhos também sorriem para ela

Não sei se já falei das mãos dela
As mãos dela são lindas
E mágicas
Elas fazem poesia
Boa Poesia
E também boa comida

Ela tem me ajudado tanto
Tanto que nem tenho idéia
Tanto que eu não sei como recompensar

Penso que Deus deve ser um cara solitário
Deve gostar de mim
Afinal de contas ela existe

Só pelo fato dela existir
Deus também deve existir

Sim

Deus existe
E eu a amo muito

(Continua)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Soneto Onírico

Yvanna Oliveira

Estou sonhando e ouço o som dos teus acordes...
neste meu sonho que é real em demasia,
sei que te amo... Veja só que ironia!
Tanto que eu quis descrer do amor... não me acorde!

Nunca me vi feliz assim, que me recorde
o teu olhar me purifica e tem magia
quando descrente, nem idéia eu fazia
da intensidade do amor... Que em mim transborde!

Quero-te tanto e não suporto a despedida
nos vejo juntos flutuando na quimera
É tão concreto o que o tempo consolida

Te sinto firme, tão presente em minha vida
Meu companheiro ao meu lado em toda era
Pra me cuidar e me amar sem ter medida.

Na tua ausência

Yvanna Oliveira

Quanto quero que meu verso te transporte!
Quero os teus olhos nos meus, no mesmo nível
Pois sem ti a noite é longa e é terrível
Se ao meu lado não te sinto, sou sem norte!

Teu sorriso e teu olhar me tornam forte
Com coragem, eu transponho o instransponível!
Longe, Amor, viver feliz, é impossível
pois que a ausência me retalha a carne em cortes!

E a minha dor é reduzida a uma assertiva:
sem tua parte que me cabe, me abrevio;
tu me expões – sou corpo e alma em carne viva!

Se és distante grita em mim um só vazio
protestante de tua falta, e à deriva
sem ter rumo, incompleta, silencio.