segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Monólogo Sobre a Solidão

Lailton Albuquerque de Farias, in O Livro dos Monólogos Mal Ditos

I

Há um certo charme em ser um solitário

Adoro a solidão

Não pela liberdade que ela aparenta dar
Não penso que sou livre sendo só

Não

Não falo de liberdade
Falo de solidão
Solidão é algo diferente
A solidão é como o pensamento
E o pensamento é a liberdade total
Na mais completa solidão

Mas eu não sei se sou livre quando penso
Apesar de ser livre pra pensar no que quiser

Essa é uma questão difícil

Porque deve ser impossível não pensar
Logo o pensamento é uma prisão
E não se pode ser livre quando se é prisioneiro

Mas essa é uma questão difícil

Eu aprendi a gostar da solidão
Quando tive que ficar só
E de tanto estar só
Aprendi a ser só

A solidão é uma opção
Eu não sei se sou livre
Não escolhi ser livre
Escolhi ser só


II

No mundo deve haver outros solitários
Desses que cultivam a solidão
Que desprezam o convívio
Que foram morar nas florestas
Que preferem as montanhas
Ou as cavernas
Ou o mar

Eu já pensei em me mudar para o mar
Comprar um velho veleiro
Navegar
Ter a companhia dos peixes
Das andorinhas
Das baleias
Dos golfinhos

Dos tubarões não
Deles eu tenho medo

O mar

O mar guarda muitos mistérios
De tesouros perdidos em naufrágios
De heróis que por anos vagaram
A deriva sem norte e sem sorte
Pela vontade dos deuses irados

No mar a solidão deve ser completa
E a noite deve ser linda
Toda cheia de estrelas no céu
Que nem o céu da minha namorada

É uma pena eu não saber navegar
E muito triste eu não ter o dinheiro
Para comprar um velho veleiro


III

O bom de ser só é que se pode namorar muito
Eu prefiro ser só e ter apenas uma namorada

As namoradas são estranhas
As namoradas dão muito trabalho
Elas são todas doidas
Querem muita atenção

Não sei se já falei de minha namorada
Sim
Eu tenho uma namorada
Como eu disse que prefiro apenas uma

A minha namorada é linda
Sorriso delicado
Pouco mais de um metro e meio
Longos cabelos negros
E olhos apaixonados que sorriem ao me ver

Meus olhos também sorriem para ela

Não sei se já falei das mãos dela
As mãos dela são lindas
E mágicas
Elas fazem poesia
Boa Poesia
E também boa comida

Ela tem me ajudado tanto
Tanto que nem tenho idéia
Tanto que eu não sei como recompensar

Penso que Deus deve ser um cara solitário
Deve gostar de mim
Afinal de contas ela existe

Só pelo fato dela existir
Deus também deve existir

Sim

Deus existe
E eu a amo muito

(Continua)

3 comentários:

  1. Esse cara é anormal.
    Senti o mar, o cheiro da maresia.
    Parabéns!
    No lançamento do Livro, quero um exemplar autografado e uma fotos com os dois e com dedicatória.
    Lindo. Sensível. Tocante.

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  2. Parabéns pelo blog , achei lindo
    e o monólogo é maravilhoso.
    Voltarei mais vezes
    Abraços
    mary

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  3. Agradeçemos pelas leituras e elogios. É muito importante o contato entre leitores e escritores.

    A Literatura é uma arte muito solitária e às vezes fria. Penso hoje (o que nem sempre pensei) que o contato do escritor ou artista com o leitor ou público pode ser muito benéfico para ambas as partes e esclarecer muitas questões interessantes.

    Continuaremos postando nossos poemas e esperando novos comentários . Muitos obrigados.

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